terça-feira, 18 de maio de 2010

Agricultura familiar reforça merenda escolar



Agricultura familiar reforça merenda escolar no interior de Alagoas


    No município de Viçosa, no interior de Alagoas, as crianças ganharam um reforço na merenda escolar: o inhame branco, uma tuberosa nutritiva e com baixo teor calórico, que pode ser usado em várias receitas saborosas. Ganharam as crianças e também os agricultores familiares da região, que têm parte de sua produção comprada pela prefeitura.
    A produção do inhame e a organização dos produtores é coordenada pelo Arranjo Produtivo Local (APL)* do Inhame no Vale do Paraíba, que conta com quatro associações e a Cooperativa Regional dos Pequenos Produtores Rurais do Vale do Paraíba, e tem como objetivo a melhoria socieoconômica local.
    De acordo com Walter Sandes, engenheiro agrônomo e gestor do APL do Inhame no Vale do Paraíba, a aprovação da Lei Federal 11.947/2009, que determina que 30% dos alimentos que compõem a merenda escolar sejam adquiridos de produtos da agricultura familiar, trouxe vários benefícios para a região, como a prática do preço justo nas relações comerciais, a abertura de um novo canal de comercialização e o aumento das hortas comunitárias.

Mobilizadores COEP - Qual a base da agricultura na região?
R.: A pecuária bovina é a principal atividade da região, entretanto, é exercida em sua maioria por latifundiários. Quanto aos pequenos produtores, a base é a agricultura de subsistência, com o cultivo da batata, da macaxeira [aipim] e inhame, sendo este último o principal em termos de retorno econômico.
Mobilizadores COEP - Qual a importância para a segurança alimentar e para o incremento da agricultura familiar a introdução de alimentos locais na alimentação escolar?
R.: Viçosa, município a 86 km de Maceió (AL), é uma cidade cuja base da economia está na produção agropecuária. Portanto, o incremento de alimentos locais aquece a economia – fazendo com que o dinheiro circule na própria cidade -, estimula a agricultura com diversificação produtiva, fixa o homem no campo, reduzindo, consequentemente o êxodo rural, e fornece alimentos mais frescos, colhidos diariamente, tendo em vista a proximidade dos campos produtivos e o local de entrega. Além disso, valoriza a culinária local e cria gradativamente uma maior independência da importação de alimentos. Uma das grandes vantagens do inhame é a sua capacidade de permanecer armazenado de 4 a 6 meses à temperatura ambiente sem degradação apreciável das suas propriedades nutricionais. Esta resistência, muito maior do que a da outros tubérculos, fazem do inhame um componente importante da segurança alimentar.

Mobilizadores COEP - O que mudou com a implementação da Lei Federal 11.947/2009, que determina que 30% dos alimentos que compõem a merenda escolar sejam adquiridos de produtos da agricultura familiar?
R.: Diversos foram os benefícios. Entre estes, citamos: criou um novo canal de comercialização; estabeleceu um preço mínimo do produto no mercado local [A saca de 60 quilos do inhame é comprada pela prefeitura de Viçosa por R$ 102, preço acima do praticado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que adquire a saca por R$ 97]; estimulou a prática do preço justo nas relações comerciais; fomentou a diversidade produtiva, a exemplo das hortas comunitárias que passaram de três para vinte e três, segundo informação do secretário de Agricultura de Viçosa, Marcos Domingos; e aproximou o gestor público das comunidades produtoras, fortalecendo a confiança política da população na atual administração.

Mobilizadores COEP - Por que o inhame branco foi escolhido para reforçar a merenda na região? Quais os benefícios obtidos através do seu consumo?
R.: O Vale do Paraíba possui tradição no cultivo desta tuberosa [o inhame é um tubérculo, uma espécie de caule subterrâneo que armazena nutrientes], e o inhame produzido é o Dioscorea rotundata [inhame branco], preferido pelo consumidor. Ele apresenta elevado teor de carboidratos e proteínas, contém apreciáveis teores de tiamina [vitamina B1], riboflavina [vitamina B2], niacina [vitamina B5], além de vitamina A e ácido ascórbico [vitamina C]. Além disso, possui menor teor calórico** [70,2 calorias] quando comparado com a mandioca [119,00 calorias] e a batata inglesa [78,5 calorias]. Por fim, tem uma produção por unidade de área [no ambiente agronômico ou agrícola, produtividade é definida como a quantidade de produção por unidade de área. Exemplo kg/ha = kilogramas por hectare], em geral, superior a da batata doce, da mandioca e da batatinha.

Mobilizadores COEP - Quando o inhame branco foi introduzido na merenda escolar das crianças do município? Quantas escolas e creches já usam o tubérculo na merenda?
R.: O inhame está presente no prato da criançada desde fevereiro de 2010 e a implementação desta lei [Lei Federal 11.947/2009] facilitou muito, pois diminuiu significativamente os trâmites burocráticos e permitiu que o pequeno produtor comercializasse seus produtos sem barreiras. Quanto ao número de escolas e creches, todas da rede municipal já usam o inhame na merenda, totalizando 21 escolas e 7 creches.

Mobilizadores COEP – De que forma ele é servido às crianças nas escolas e como está sendo sua aceitação?
R.: O inhame é servido cozido na forma tradicional de purê e como parte integrante de receitas. A aceitação é muito boa. Ele é um alimento sempre presente na mesa do nordestino, independentemente da classe social.

Mobilizadores COEP - O inhame pode substituir outros ingredientes?
R.: Sim. Pode substituir parcialmente a farinha de trigo, daí podemos imaginar as infinitas possibilidades de pratos, a exemplo de bolos, pizzas, lasanhas, pães, salgados diversos, sorvete, sucos, entre outros.

Mobilizadores COEP - De que forma é produzido o inhame no município?
R.: As associações são semelhantes a todas as outras de produtores rurais. O que se destaca nessa situação é a assistência técnica dada pela Secretaria da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária (Seagri-AL), e a Secretaria Municipal de Agricultura de Viçosa. Quatro associações estão cadastradas para comercializar com o poder público, num total de 50 famílias, além de vários agricultores individuais, ou seja, que não fazem parte de nenhuma associação ou cooperativa. Todos eles são do município e vivem do que produzem na terra.

Mobilizadores CoEP – Qual o papel desempenhado do cooperativismo neste cenário?
R.: A cooperativa tem como papel congregar os produtores, por meio da prestação de assistência tecnológica, compra de insumos, vendas compartilhadas e promoção de uma gestão participativa, desenvolvendo, portanto, ações voltadas para o fortalecimento da competitividade, do crescimento econômico e da abertura de novos mercados.

Mobilizadores COEP – De que forma o Arranjo Produtivo Local (APL) do Inhame participa deste processo?
R.: O APL é parte integrante do Programa PAPL [Programa de Desenvolvimento de Arranjos Produtivos Locais], e conta com o apoio direto do Governo do Estado de Alagoas, por meio da Seplan [Secretaria de Estado do Planejamento e do Orçamento ], Seagri , Sebrae-AL e demais parceiros públicos e privados. O APL tem contribuído para o fortalecimento dos grupos produtores de inhame organizados em associações e cooperativas por meio da congregação de instituições de ensino e pesquisa, poder público federal, estadual e municipal, ONGs, instituições financeiras, agências de fomento e desenvolvimento e empresas privadas, somando esforços para a promoção da melhoria socioeconômica dos agricultores de inhame na região do Vale do Paraíba (AL).

Mobilizadores COEP – E como funciona o APL do Inhame no Vale do Paraíba?
R.: O APL possui um grupo composto por 22 membros que se reúnem todo mês para discutir e avaliar o andamento das ações. O nosso objetivo é organizar os produtores e a produção de inhame no Vale do Paraíba (AL) na busca da melhoria socieoeconômica de forma sustentável. Fazem parte do APL quatro associações e a Cooperativa Regional dos Pequenos Produtores Rurais do Vale do Paraíba.

Mobilizadores COEP - Quantos quilos de inhame são vendidos atualmente à prefeitura?
R.: Foram vendidos cerca de 6 mil quilos até o momento. Inicialmente, os produtores irão fornecer o inhame até o fim do mês de maio. [Para o prefeito de Viçosa, Flaubert Torres Filho, “a previsão é que daqui a seis meses os recursos investidos na aquisição desses produtos aumentem, e a prefeitura possa comprar 50% da merenda escolar dos agricultores familiares”].

Mobilizadores COEP - Como os agricultores familiares foram capacitados para atender à demanda?
R.: Através da articulação e mobilização dos parceiros. Para chegar até as compras públicas, o grupo de produtores foi capacitado em associativismo e cooperativismo por técnicos da Secretaria de Estado da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário. O grupo também teve apoio do Arranjo Produtivo Local do Inhame no Vale do Paraíba, do Sebrae em Alagoas, Secretaria de Estado do Planejamento e do Orçamento (Seplan) e da prefeitura de Viçosa. A Seagri mantém a assistência técnica. As capacitações de forma geral são ofertadas pelo Sebrae.

Mobilizadores COEP - Outros produtos agrícolas da região já foram ou vão ser introduzidos na merenda das crianças?
R.: Sim, frutas e hortaliças.

Mobilizadores COEP - Quais as perspectivas no que se refere à continuidade da iniciativa?
R.: Se a assistência técnica continuar, o poder público permanecer apoiando e a produção agrícola for ampliada e diversificada, as perspectivas serão as melhores possíveis. Em síntese, são três as bases do sucesso dessa nova lei: vontade política, assistência técnica e produção agrícola.



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*O Arranjo Produtivo Local (APL) é caracterizado por ter um número significativo de empreendimentos no território e de indivíduos que atuam em torno de uma atividade produtiva predominante, compartilhando formas percebidas de cooperação e algum mecanismo de governança, podendo incluir pequenas, médias e grandes empresas.

** Kcalorias (por 100 gramas)

Entrevista do Grupo Combate à Fome e Segurança Alimentar

Concedida à: Marcelo Copelli

Editada por: Renata Olivieri



Dia Nacional de Enfrentamento ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes.

      O dia 18 de maio é o Dia Nacional de Enfrentamento ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. A Marcha contra o abuso sexual da criança e do adolescente surgiu com o intuito de mobilizar as próprias crianças e adolescentes, além da sociedade e o governo como um todo, a combater essa forma cruel de violação de direitos de meninas, meninos e jovens brasileiros.
      De acordo com dados nacionais a cada minuto 4 crianças sofrem algum tipo de abuso sexual. Por isso criaram este site, http://www.estaacontecendoagora.com/, para que as pessoas tenham a consciência de que elas podem não ver, mas a cada minuto que passa, mais crianças são vítimas dessa violação.